Esperar é ainda uma ocupação. Terrível é não ter nada que esperar.

Perguntam-me quando volto. Mais tarde ou mais cedo, todos falam de voltar. Todos os dias são dias de refazer a vida, afinal. Oiço-lhes os argumentos, os planos, onde se enganam e se esperançam com mais ou menos confiança, as ruas que ainda querem cruzar, as saudades de todos os dias, as contas de subtrair e somar dinheiros e filhos. Têm sonhos, ainda. Levam malas, projectos, desgostos e queixas, mas baixam menos os olhos, dir-se-ia que agora vêem mais longe, mais fundo. Podem mais e sabem que podem mais. Conheço-lhes os dramas, partilho do mesmo pão e do mesmo vinho, mas resisto às certezas como quem resiste a qualquer outro infortúnio. Porque o problema da vida, é que continua. Porque a beleza da vida, é que continua.

Não sei quando volto nem para onde vou. Qual, aquele momento em que podemos garantir que basta, já chega? A vida é tão grande e o mundo, mesmo assim, consegue ser tão pequeno. Junto ao mar, o rio parece sempre pouco, disso sei. Sei do vento e sei do céu, sei da tua boca e de histórias de amor, sei de coisas que só as aves sabem, horas em que me faltas e o tempo que me falta. Só não sei quando volto. Só não sei se volto.

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