As pessoas que eu mais admiro são aquelas que nunca acabam.

Em contrapartida, aquelas que mais desprezo são aquelas que nem sequer começam. Pessoas que vivem no medo do medo, à superfície da vida e sem entrar na água, sem ambições ou objectivos, tão assustadas que preferem fechar-se ao mundo e aos outros, tão pessimistas que não aceitam a felicidade ou a ideia dela, tão tristes, uns tristes. Convencem-se que a sua passividade e cobardia são inevitáveis e que, no fundo, talvez até mereçam ser assim. São estes os coitadinhos da vida, subjugados e sofridos até mais não, vítimas que não conseguem deixar de ser vítimas numa atitude que mais parece masoquismo, porque os outros conseguem, mas eles não são capazes, porque os outros não estão nas mesmas condições que eles, porque eles são únicos e os outros são maus. Sacrificam até a liberdade por não aguentarem a responsabilidade de tomarem decisões. Preferem, até, que nada se altere porque o desconhecido dá uma carga de trabalhos, ui que susto, apesar de tudo até que não se está mal assim.

Aceitar ser vítima é troçar da liberdade. Quem não se respeita, não pode esperar dar-se ao respeito.

(some-se a isto uma personalidade atada de quem não sabe fazer nada sozinho e acorda a querer a papinha toda feita – e agora o que é que eu faço, Ana? -, porque ufa como é extenuante talhar um caminho e tomá-lo como nosso!, e uma carência extrema que endeusa todo aquele que lhe dê atenção, e temos a personagem principal do novo livro da Ana Zanatti. Meu deus, livra-me disto.)

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